sexta-feira, 24 de maio de 2013

As Três Formigas (Parte 1)

A rainha do nosso formigueiro morreu. Como nós vamos sobreviver? Como vamos nos organizar para juntar e dividir a comida? Como vamos afastar predadores?
 
Melhor avisar o conselho.

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Já se passaram três horas, mas nós conseguimos reunir um conselho de dez formigas. Eles decidiram escolher entre três formigas: a que observava a aparência do formigueiro, a que pensava sobre  as ferramentas que deveríamos organizar, e... quem é aquela formiga? Uma operária, como a gente?

Mas o que ela sabe sobre gerenciar o formigueiro? Tudo o que ela faz é trabalhar como vigia!

Ah, lá vem o conselho. Eles estão dando recompensas para as formigas.

Para a primeira, eles disseram: você é a formiga mais talentosa do formigueiro! Como viveríamos sem saber a nossa organização visual? Para você, nós damos o nosso ouro em pó mais valioso.

Para a segunda, eles disseram: foi difícil saber se você era a formiga favorita; a gente diria que você está empatada com a primeira. Por isso, nós vamos dar a nossa prata em pó mais valiosa para você.

Chegou a vez da terceira formiga. Todo mundo estava se segurando para não rir, porque... quem esperaria algo de uma formiga vigia? 

O conselho, então, disse, rindo: para você, que é uma operária, nós damos a terra do nosso formigueiro. E então, vigia, o que você consegue fazer com ela?

Aí, eles deram algumas gargalhadas e pararam. O que eles estavam pensando?

"Nós vamos dar um prazo para vocês", disse o conselho. "Em três meses, a gente vai verificar o trabalho de vocês novamente e vamos nos reunir para saber quem vai ser a nossa rainha. Combinado?"

Bom... só me resta esperar três meses.

terça-feira, 21 de maio de 2013

A Criação da Espada do Céu e da Terra

No começo do mundo, só havia a Terra vermelha e o Céu preto. E os dois brigavam sobre como a Espada que criaria a Vida deveria ser.

“Sonho!” Trovejou o Céu, projetando a Espada. “Para que todo ser pensante possa voar sem asas!”

“Pensamento!” Tremeu a Terra. “Para que todo ser pensante não voe sem asas!”

“Criação!” Relampejou o Céu. “Para que os seres viventes possam alterar seus destinos!” 

“Destruição!“ Gritava a Terra, em erupção e moldando a Espada. “Para que todos os seres tenham espaço igual, e nenhum domine eternamente a Cadeia da Vida!”

“Noite!” O Céu brilhou com suas estrelas e esfriando a Espada. “Para que os seres que não suportem o calor do Sol vivam sobre mim!”

“Dia!” Protestou a Terra, agora com oceanos para esfriar a Espada mais rápido. “Para que os seres que gostam da luz vivam sobre ela e descansem de Noite!”

”Imaginação!” Falou o Céu, ofuscado pelo ar e a luz, que tingiam ele de azul de vez em quando enquanto ele temperava a Espada com os relâmpagos.  “Para que todo ser que pense possa juntar os pensamentos e criar sonhos novos!”

“Realidade!” A Terra gritou, experimentando a espada e tentando atacar o céu com os furacões. “Para que os seres que imaginam não destruam as Leis do Universo e possam viver em harmonia, mesmo que isso cause a morte!”

O Céu e a Terra viram que a Espada estava pronta, e concordaram com uma coisa: que ela era muito poderosa para cair nas mãos de um único ser.

“O que vamos fazer, Céu?”

“Vamos quebrar a Espada em pedaços com meu trovão, Terra.”

“Eu vou espalhar os fragmentos pelo mundo com os meus mares, Céu. Assim, ninguém poderá usar a Espada, mas todo aquele que for cortado por um fragmento dela terá uma fração de sabedoria.”

“Terra, eu vou movimentar os ventos para ajudar o seu oceano, e para espalhar a poeira da Espada para todos os  seres.”

E assim, o Céu e a Terra quebraram a Espada em um pó muito fino, brilhante de estrela, e a harmonia da Vida começou.

domingo, 19 de maio de 2013

A Vespa e a Abelha



Em uma floresta tropical, havia um bando de vespas que comia abelhas. Como uma vespa podia matar várias abelhas de uma vez, assim elas caçavam. Certo dia, uma vespa viu uma abelha com o olhar distraído, procurando pólen.

“Oba!” Pensou a vespa. “Aquela ali parece ser burra o suficiente para servir de comida para mim!”
A vespa chegou perto da abelha e fez o pior papel de atriz possível.

“Ó, abelhinha! Você poderia me ajudar? Eu me sinto tão desolada nessa floresta... eu me perdi do meu grupo!”

A abelha perguntou, desconfiada.

“Mas você não vai tentar me devorar? Eu fiquei sabendo que o seu grupo de vespas adora devorar abelhas.”

“Não, abelhinha! Juro que não!” Continuou a vespa, interpretando pior que uma atriz de teatro de 5ª categoria. “Você é a minha amiguinha querida! A mais especial!”

A abelha, então, demonstrou a sua solidariedade.

“Não precisa chorar! Eu acredito em você. Vem, é por aqui.”

“Otária!” A vespa começou a zombar em pensamento. “Nunca tive refeição mais fácil que você!”
A vespa, então, continuou com o seu teatrinho.

“Você pode me seguir nesse caminho aqui, longe da sua colméia? É que eu não quero ser reconhecida.”

“Tá.” Respondeu a abelha. “Eu vou seguir você.”

Assim que chegou no meio da floresta, a vespa lançou o seu ferrão na abelha e a feriu mortalmente.

“Abelha idiota! Eu sabia que você ia cair nessa! Vocês sempre caem!”

“Engano seu”, respondeu a abelha com os seus últimos suspiros.

“Eu conheço o tipo de vocês. Vocês acham que, mentindo, conseguem enganar as abelhas mais fracas.”

A vespa tentou escapar, horrorizada por ter sido descoberta. Mas ela estava perdida. A abelha, então, continuou.

“A nossa colméia já sabe dessa estratégia de vocês. Eu sabia que, no momento em que você veio me pegar, eu já estava perdida. Mas...”

“Mas?! Mas o quê?! Continuou a vespa, incrédula.”

“Mesmo sabendo que havia poucas chances de você ser diferente, eu resolvi dar uma chance. Se você não tivesse me ferroado mortalmente, teria escapado. Mas agora...”

E a abelha morreu.

Achando que estava salva com a morte da abelha, a vespa tentou fugir. Mas foi em vão: aquela abelha tinha chamado por outro grupo de abelhas para vigiá-la e proteger a colméia. Elas cercaram a vespa, geraram uma fonte de calor muito grande, e torraram a vespa, morrendo junto com elas e salvando a colméia.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O homem e o pé de rosas

—Ariadne, qual é a história de hoje?

— Úrsula, a gente poderia contar...

— Aquela?

—Isso, aquela do pé de rosas! Deixa eu começar hoje, Úrsula?

—Você é afobada, hein, Ariadne? Tá, vai.

—Então... eu acho que essa história durou mais ou menos um mês.

—É. Tem um senhor aqui do lado que tem um canteiro de flores, sabe? 

—É, e ele vivia conversando com elas.

—Que conversando! Ele falava sozinho. E ele vivia reclamando de um pé de rosas. Era mais ou menos assim:

“Por quê vocês não são tão grandes quanto as rosas da feira?”
“Vocês são tão pequenas que me dão vergonha!”
“Bem que vocês poderiam ser mais coloridas, que nem as rosas da feira!”

—Aí, a gente viu ele na feira e decidiu espiar. Né, Ariadne? Eu sei que aquela Rosa Colombiana da feira era tudo o que ele queria. Tudo o que o pé de rosas do canteiro não era!

—Então... o feirante percebeu, né? Ele falou que aquela rosa tava no pé, que era importada, que não podia vender...

—Aí a gente só viu o vizinho tirar uma nota de R$ 50,00 do bolso. O feirante balançou, né? Não tinha como...

—Como resistir.

—É, Ariadne.

—Eu só sei que o vizinho ficou admirando tanto a Rosa Colombiana que...

—Ele esqueceu de regar o jardim. Aí a rosa do canteiro dele foi murchando e morreu.

—É, Úrsula. Lembra que ele ficou um dia inteiro lamentando pelo pé de rosas mortas?

“É culpa minha. Tudo culpa minha. Você morreu porque eu esqueci de te regar. E eu te amava tanto... era você que enfeitava o meu canteiro todos os dias. Vocês não eram as rosas mais bonitas, nem as maiores, nem as mais coloridas. Mas vocês eram as minhas rosas mais especial... por quê eu me esqueci de vocês?” 

—Que cara burro, né, Ariadne?

—É, Úrsula! Agora ele tem uma rosa bem mais bonita que o pé que ele tinha no jardim!

—Quem chora por um pé de rosas mortas, né Ariadne?

—É!

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Gotinha D'Água Tristonha



Há alguns milhões de anos atrás, havia uma gotinha d'água.

Há alguns milhares de anos atrás, havia uma gotinha d'água.

Há alguns séculos atrás, havia uma gotinha d'água.

Hoje, nós temos uma Gotinha D'Água muito triste, porque ela ganhou consciência de si.

A primeira coisa que ela percebeu é que fazia a mesma coisa por éons: as nuvens sempre ficavam pesadas, furiosas, e cuspiam trovões e relâmpagos. Os ventos sempre sopravam com força. E então, a gotinha caía sobre a terra. E dentro da terra.

Ela percebeu que era só isso que fazia.

E a Gotinha chorou sobre a terra, e dentro da terra.

“A minha vida é eterna, mas eu nunca sou útil... a minha vida é eterna, e eu vou ser inútil pra sempre...” ela resmungava, de novo e de novo.

Uma árvore ouviu a gotinha falando, e perguntou pelas raízes:

“Inútil pra sempre?” 

“Pra sempre.” A Gotinha sacudiu o seu corpo fluido, chorando.

“Você vive caindo em cima de mim há mais de cem anos”, a árvore disse, grata. “A minha existência é um piscar de olhos para você, e ainda assim você me fez grande, de mês em mês e de ano em ano, sem reclamar. Obrigada”.

“Não. Obrigada a você”, respondeu a gotinha, emocionada, enquanto subia pelo tronco, passava pelas folhas e evaporava. “Você deu sentido à minha vida inútil, eterna”.

A Gotinha D'Água Feliz finalmente evaporou, ansiosa para recomeçar o que começou há milhares de anos atrás.

Colina das Estrelas


Desesperado, ele se jogou na noite. Ficou tudo um breu. Que medo... aquela escuridão parecia querer devorá-lo.

Acostumado com as trevas, ele passou a ver a luz. A luz da lua, das estrelas. 

Era tudo tão lindo! Por quê ele nunca tinha olhado para o céu antes?

E ele lembrou de quando era criança e olhava as estrelas; de quando conversava com elas. As estrelas eram amigas dele: ele se alegrava, se entristecia, reclamava, contava coisas para elas, pedia. Sonhava. Sonhava acordado. Sonhava dormindo.

O brilho foi desaparecendo conforme ele crescia, até sumir por completo. Mas, naquele vento suave, com o cheiro de orvalho, as estrelas eram só dele. Mesmo que fosse só por um momento, só dele. E ele subiu a colina.

Aí, ele viu que aquela não era qualquer colina. Ela brilhava em azul. Que legal! E ele podia pisar nas estrelas! Elas faziam cosquinhas no pé dele! E dava para ouvir um monte de coisas.

“Quando eu crescer, eu quero ser modelo...”
“Senhor Deus, cura a minha mãe!”
“Eu quero ficar rica.”
“A gente quer paz.”

As estrelas falavam! Ué... mas aqueles não eram os desejos dele. Será que...

Será?!

Será que aqueles eram os desejos dos outros? Será que ele podia ouvir o que os outros pensavam?

Que legal!

Ah, claro né: não tinha só desejo bonito. Tinha desejo estranho, supérfluo... até desejo que assusta.
Dali, daquela colina, as estrelas diziam a ele todos os desejos. Mas cadê os desejos dele?

Então, ele viu uma estrela no cantinho... quieta. E ele reconheceu aquela voz. Era a voz dele! E a estrela conversou com ele, e falou a ele do que ele desejava quando era criança.

Aí, amanheceu. As estrelas sumiram. Ele esqueceu do que ele desejou quando era criança, e começou a chorar.