quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Gotinha D'Água Tristonha



Há alguns milhões de anos atrás, havia uma gotinha d'água.

Há alguns milhares de anos atrás, havia uma gotinha d'água.

Há alguns séculos atrás, havia uma gotinha d'água.

Hoje, nós temos uma Gotinha D'Água muito triste, porque ela ganhou consciência de si.

A primeira coisa que ela percebeu é que fazia a mesma coisa por éons: as nuvens sempre ficavam pesadas, furiosas, e cuspiam trovões e relâmpagos. Os ventos sempre sopravam com força. E então, a gotinha caía sobre a terra. E dentro da terra.

Ela percebeu que era só isso que fazia.

E a Gotinha chorou sobre a terra, e dentro da terra.

“A minha vida é eterna, mas eu nunca sou útil... a minha vida é eterna, e eu vou ser inútil pra sempre...” ela resmungava, de novo e de novo.

Uma árvore ouviu a gotinha falando, e perguntou pelas raízes:

“Inútil pra sempre?” 

“Pra sempre.” A Gotinha sacudiu o seu corpo fluido, chorando.

“Você vive caindo em cima de mim há mais de cem anos”, a árvore disse, grata. “A minha existência é um piscar de olhos para você, e ainda assim você me fez grande, de mês em mês e de ano em ano, sem reclamar. Obrigada”.

“Não. Obrigada a você”, respondeu a gotinha, emocionada, enquanto subia pelo tronco, passava pelas folhas e evaporava. “Você deu sentido à minha vida inútil, eterna”.

A Gotinha D'Água Feliz finalmente evaporou, ansiosa para recomeçar o que começou há milhares de anos atrás.

Nenhum comentário:

Postar um comentário