Desesperado, ele se jogou na noite. Ficou tudo um breu. Que medo... aquela escuridão parecia querer devorá-lo.
Acostumado com as trevas, ele passou a ver a luz. A luz da
lua, das estrelas.
Era tudo tão lindo! Por quê ele nunca tinha olhado para o
céu antes?
E ele lembrou de quando era criança e olhava as estrelas; de
quando conversava com elas. As estrelas eram amigas dele: ele se alegrava, se
entristecia, reclamava, contava coisas para elas, pedia. Sonhava. Sonhava
acordado. Sonhava dormindo.
O brilho foi desaparecendo conforme ele crescia, até sumir
por completo. Mas, naquele vento suave, com o cheiro de orvalho, as estrelas
eram só dele. Mesmo que fosse só por um momento, só dele. E ele subiu a colina.
Aí, ele viu que aquela não era qualquer colina. Ela brilhava
em azul. Que legal! E ele podia pisar nas estrelas! Elas faziam cosquinhas no
pé dele! E dava para ouvir um monte de coisas.
“Quando eu crescer, eu quero ser modelo...”
“Senhor Deus, cura a minha mãe!”
“Eu quero ficar rica.”
“A gente quer paz.”
“Senhor Deus, cura a minha mãe!”
“Eu quero ficar rica.”
“A gente quer paz.”
As estrelas falavam! Ué... mas aqueles não eram os desejos
dele. Será que...
Será?!
Será que aqueles eram os desejos dos outros? Será que ele
podia ouvir o que os outros pensavam?
Que legal!
Ah, claro né: não tinha só desejo bonito. Tinha desejo
estranho, supérfluo... até desejo que assusta.
Dali, daquela colina, as estrelas diziam a ele todos os
desejos. Mas cadê os desejos dele?
Então, ele viu uma estrela no cantinho... quieta. E ele
reconheceu aquela voz. Era a voz dele! E a estrela conversou com ele, e falou a
ele do que ele desejava quando era criança.
Aí, amanheceu. As estrelas sumiram. Ele esqueceu do que ele
desejou quando era criança, e começou a chorar.
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